quinta-feira, 26 de outubro de 2017

livro aberto




Brooke Shaden



livro aberto.

o tê-lo sido por, simplesmente, não ter conseguido ser de outra forma.
não o sabia.
penso que nunca o soube ou cheguei a saber.

foi só a Alma. paginada.
se não tinha mais nada para te dar... era o meu bem mais precioso, sabias?
não a pele, o desejo, o sentir da sensualidade. não. isso viria depois. mas receaste-  -o. tal como ao compromisso. lançaste a âncora e contornaste o cais nunca conhecendo a sua solidez.
a minha.
e eu não te pedia mais nada.

aprendi a maior solidez na tempestade do teu mar. era só eu e as tuas ondas. tortuosas. e não naufraguei.


[agora:

observo-te do cais velando o ranger das tuas cordas]





segunda-feira, 23 de outubro de 2017

devolve-me




Pier Toffoletti




devolve-me o tempo da tua existência.

quando existência era
tu chegares
eu esperar-te
eu saber que não faltarias
que voltarias porque o desejavas

era o tempo ser o mesmo
nosso
parado
na esquina onde a indiferença o tinha deixado
contando
sofrido

fora de nós
tudo era um hábito
um sempre foi


só nós deixávamos acontecer.



sábado, 21 de outubro de 2017

saudação







Jaroslav Monchak






trago o olhar a descoberto.

deu-mo o presente quando temi o abandono no futuro...
que quase não tive amanhã
e, é certo, já não tenho passado.

dele,
sobrou apenas um retrato na moldura da memória e uma carta de palavras cravejadas num passado que não identifico.


o resto ainda sou Eu.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

na pausa de uma Saudade




                                                                                        Jaroslav Monchak


jaz há muito calado o murmúrio do vento.

abro em vão as janelas da memória, perdidamente, busco no olfato os resquícios dos aromas que te lembram, calo-me, atenta, aos gemidos do velho sobrado da casa... e nada.

tudo sorvido pelo Tempo, pelas inutilidades da Vida que deixam em nós estes vazios, pilares de recordações, de momentos essenciais de cada novo dia, de cada novo sorriso com que me amanhecias.

e como eram curtos os dias, como eram brincalhões os minutos, fugidios os segundos.

neblina sofrida, tu
como nada é




segunda-feira, 4 de setembro de 2017

divagações.



 
Maria Svarbova




dois candelabros sustidos na entrada do meu olhar
do meu mundo azul

esse tapete com que atapetas os meus dias mesmo sem estares
e eu chego
e desvaneço-me
e eu olho
e vejo-te
e tu dizes

segue-me!
tudo o mais é só mundo
um mundo de que não fazes parte